A passagem do milênio trará paz ?
Se essa questão fosse feita ao historiador Eric Hobsbawm possivelmente ele iria responder que não possui os atributos para prever o futuro, mas é possível compreender sua visão em relação a esse questionamento quando ele deixa claro que o caminho para o terceiro milênio se dá em meio a um nevoeiro global (HOBSBAWM, 1995 ).
Essa perspectiva vem a partir da análise dos diferentes períodos políticos, econômicos e sociais que moldaram o último século do milênio e vai também influenciar nos novos anos que seguem.
E um dos principais marcadores desses períodos foi a guerra, que protagonizou grande parte da história e trouxe marcas de caos que dificilmente vão ser superadas rapidamente.
Dessa forma, as guerras mundiais mexeram com as estruturas de grande parte do mundo, levando em conta um certo eurocentrismo.
Nesse contexto, a primeira guerra mundial é considerada a mãe das guerras dos séculos XX e XXI (ARARIPE, 2011) e colocou fim a uma época denominada de Belle Époque, que é considerada uma época de felicidade e fartura. Porém, como a revolução Industrial e as transformações sociais, foi implementado um expansionismo e conflito de territórios. Essa guerra promoveu uma mudança no mapa, afirmação dos EUA de sua hegemonia, e apresentação da União Soviética (SONDHAUS, 2013).
Contudo, veio após a segunda guerra mundial que trouxe um crescimento e empobrecimento econômicos, salientou um debate ideológico, que iria crescer ainda mais no pós guerra, e é considerado o maior dos conflitos armados mundiais (GILBERT, 2021).
Em seguida, se iniciou a guerra fria, que nada mais foi do que um conflito bipolar entre os EUA e a União Soviética, que no pós segunda guerra se tornaram as maiores potenciais internacionais da época. O final dessa tensão gerou uma aceleração nos fenômenos da transnacionalização/globalização, consolidação do capitalismo e da fragmentação sociocultural (HERZ, 1997).
Entretanto, independente da opinião de que o mundo pós guerra fria se tornou multipolar ou unipolar, é importante entender o que todas essas guerras possuem em comum, senão o domínio nas relações de poder. Todas elas trouxeram uma desordem para o século, em virtude de uma dominação territorial ou ideológica.
Portanto, essas relações de poder influenciam, independente do século, em todos os âmbitos da sociedade, desde a economia até aos aspectos sociais.
Então, a influência na economia pelo eurocentrismo até a consolidação do capitalismo, que gera socialmente e economicamente uma desigualdade entre os países, vai continuar perpetuando, pois um caos leva ao outro.
Eventualmente isso também se dá às questões sociais, que seguindo essa lógica de perpetuação do caos, pode trazer como exemplo a divisão territorial feita lá na época da primeira guerra mundial, consequentemente influenciando no aumento da imigração para os países europeus.
Além do fato de que os conflitos não acabaram, na verdade foram sendo centralizados em territórios menores e com novas questões. Porém, ainda possuem resquícios, ou até mesmo são a continuação, das transformações dos conflitos passados.
Desse modo, esse nevoeiro global se dá não por conta apenas das guerras, mas também pelas consequências que surgiram dos diferentes períodos políticos, econômicos e sociais. Assim, a troca de milênio não trará a plenitude da paz, pois irá herdar os problemas e consequência do século passado.
Link para o livro " Era dos Extremos" : : https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4071685/mod_resource/content/1/Era%20dos%20Extremos%20%281914-1991%29%20-%20Eric%20J.%20Hobsbawm.pdf
Laila: você também faz, seguindo a humilde opinião do autor do texto comentado, uma previsão nada otimista de sairmos desse nevoeiro em que vivemos desde que nascemos. E observe que eu me incluo nessa análise há quase seis décadas. Parabéns pelo texto.
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